O historiador Jaelson Trindade, em 16 de março de 1984, estava à procura no Arquivo Histórico Municipal, de algo a respeito da vida social e religiosa de Mogi das Cruzes no século XVIII para textos de uma exposição a ser montada nas igrejas das Ordens 1ª e 3ª do Carmo que acabaram de serem restauradas.
Um pequeno livro com capa de couro logo lhe chamou a atenção. Tratava-se de uma cópia do Foral da Vila de Mogi das Cruzes de 1748. A capa de couro parecia avolumada demais e ao abrir-lhe logo ele constatou velhas partituras que serviam de enchimento à capa.
Um detalhe logo lhe chamou a atenção: quase todas as partituras já estavam comidas pelo bicho em algum ponto, sem coincidirem, mas a capa de couro estava íntegra.
A primeira providência foi libertar o material do Livro do Foral. Ele foi retirado do arquivo, sob autorização e entregue ao Núcleo de Restauração da Biblioteca Mário de Andrade para o deslocamento total das partituras.
O rápido atendimento do Núcleo permitiu que logo se iniciasse o estudo de transcrição de algumas peças pelo musicólogo Regis Duprat.
Algumas composições traziam o nome de autor, Faustino do Prado Xavier e Angelo do Prado Xavier e um usuário, Thimóteo Leme.
A maioria das composições eram sacras feitas para os Ofícios da Semana Santa.
Dentre as 29 folhas de papel de música encontradas, foram identificadas 11 obras diferentes.
As análises preliminares feitas por Régis Duprat entre1984 e 1985 e os estudos desenvolvidos sobre as obras musicais assinalam o caráter sóbrio, ainda atado ao maneirismo, que caracterizam as peças de Mogi. Nesse contexto essas peças musicais poderiam serem escritas tranquilamente no século XVII já que esse estilo maneirista perdurou por toda a segunda metade dos seiscentos.
Em resumo, são as partituras mais antigas do Brasil encontradas em Mogi das Cruzes.
Fontes:
- Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – nº 20/1984
- Tese: O Grupo de Mogi da Cruzes: Prática de Música na Mogi Colonial – Joab Fernandes dos Santos – 2010