A Semana



“Dê ouro para o bem do Brasil”

1964 foi um ano atípico. Claro que eu não lembro de nada, tinha apenas um ano de vida. Fui tomar conhecimento de alguma coisa com seis, sete anos: lembro do Roberto Carlos cantando “Eu quero que vá tudo pro inferno”, entre outras músicas, lembro da Copa de 70 no México, colecionei figurinhas dessa copa. E lembro perfeitamente de Dom & Ravel cantando “Eu te amo meu Brasil”.

É claro que eu, ainda nesse tempo não saberia dizer que estávamos sobre uma forte ditadura militar. Na escola não se falava isso, apenas se preocupavam e nos ensinar história, geografia, português, ciências, matemática e organização moral e cívica.

Mas no final de 1964, surgia a campanha “Dê ouro para o bem do Brasil” e como sempre, Mogi das Cruzes não ficou de fora.

Essa campanha que se espalhou por todo o país funcionava através de instituições de serviços públicos, em Mogi, foi pelo Rotary Club que encomendava alianças de latão com a inscrição “Dei ouro para o bem do Brasil”. Para cada mogiano que depositava sua aliança de ouro 18K numa urna, ganhava essa aliança de latão.

O sede da campanha em Mogi ficava na Igreja do Rosário, já muito abandonada tanto que foi demolida no ano seguinte para dar lugar ao Hotel Binder na Praça João Pessoa, hoje mais conhecida como Praça da Marisa. A igreja foi vendida para o grupo que iria construir o hotel porque na época, o nosso primeiro bispo de Mogi, dom Paulo Rolim Loureiro precisava de recursos para concluir as obras da catedral de Santana e da Residência Episcopal na rua Ipiranga.

Enquanto não a demoliam a igreja serviu para a campanha. A imagem de Nossa Senhora do Rosário foi retirada do altar e em procissão foi para a capela da Vila Industrial que era paróquia de um sacerdote recém chegado do Ceará, um tal de Manuel Bezerra de Melo. Vocês o conhecem? Então, ele mesmo!

Assim na abandonada Igreja do Rosário na rua Dr. Deodato Wertheimer montaram o altar da Pátria que consistia numa urna sobre a mesa de celebração volteada por bandeiras do Brasil, São Paulo e Mogi. De guarda, os sentinelas do Tiro de Guerra e entregando as alianças de latão em troca do ouro, os Escoteiros.
Este cenário ficou montado por quase um mês, 24 horas por dia.

Fonte:

  • História de Mogi das Cruzes – Isaac Grinberg – 1961
Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Autor do livro “Mogy Antiga”, é membro da AMHAL - Academia Mogicruzense de História, Artes e Letras.

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