A Semana



Nosso Maestro Gaó – 2

Continuando a emocionante entrevista com o premiado pianista Carlos Zapille Albertini sobre o Maestro Gaó.

E como era o Maetro Gaó?
Ele era uma pessoa muito calma, ele incentivava desde quem estava começando até quem era um pianista adiantado, mas muita calma, agora muito exigente, e quando ele via que o aluno queria aquilo pra a vida, no meu caso, então ele exigia mais ainda, porque não estava fazendo porque meu pai queria, e minha mãe, minha mãe gosta muito, ela foi minha inspiração até hoje, mas ele sabia que eu gostava muito, interessante, que até então, ele ser conhecido como pianista popular, mas ele nunca me deu uma música popular para tocar, porque ele sabia o meu gosto musical, e o dele também era, ele queria ser um pianista erudito, e foi…

Como era estudar com o Maestro Gaó?
Depois que eu fui estudar em São Paulo com outros professores, eu deixava para ir aos sábados o Maestro, Dona Dina, a cunhada, a esposa e a cunhada, Matilde, elas faziam uma sopinha, então de manhã ficávamos conversando sobre Horowitz, piano, música, gostava muito das sinfonias de Tchaikovisky, e ali, com ele, eu aprendi muita disciplina, até o dia-a-dia, quando começou estudar, o horário para estudar, e aprendi muita coisa, porque ele era muito assim pai musical, então, por exemplo, a única coisa do Maestro que era um defeito, ele gostava do São Paulo, do time, então, se tivesse jogo, esquece, tinha que esquecer dele, ele falava “se um corinthiano entrar aqui, aqui é São Paulo!!!”, então, as vezes eu ia lá e tinha jogo, eu ficava na cozinha com a Matilde e a Dina, porque ele, nossa, parecia que ia ter um ataque, ele gostava, a disciplina, como o Rouxinol, ele me ensinou muita humildade, ele era muito humilde, ele era muito… um senhor elegante, um senhor culto né, incentivava todo mundo, era um ser humano maravilhoso…

Como era Mogi na época do começo de seus estudos com o Maestro?
Na época que estudei com o Gaó em 78, Mogi era uma cidade muito gostosa de se viver e naquele tempo não tinha um movimento cultural, até era gostoso naquele tempo porque tudo era novidade, os professores de piano faziam audições, Banda né, no dia 22 de novembro a Banda Santa Cecília fazia o concerto de aniversário e eu não perdia um, porque ia com minha vó, minha mãe, eu gostava de ver o regente ali né, e uma vez toquei com o Coral da Catedral no final da apresentação, mas era tudo difícil, era no Expedicionário, como eu disse era no Tiro de Guerra, a Banda era no Expedicionário, e era esperado esse raros momentos né, mas era tudo difícil, eu toquei com o Maestro Gaó na reinauguração do Teatro Municipal na Semana Gaó e Seus Alunos, foi doado um piano de cauda, o Kawai, que deve existir ainda, e foi um acontecimento, um teatro com piano de cauda, então eu lembro que toquei com o Maestro, toquei a Goodshaw que era a grande Tarantella, e Litz, toquei com ele a quatro mãos também, e ele mais tarde começou a tocar, a fazer recitais sozinho, mas antes era muito difícil. Eu me lembro que morava na rua Francisco Franco e eu e a Regina Duarte, peças de teatro, tudo naquele Liceu Bráz Cubas, muitos até assisti, porque não havia local, apoio, então ele foi um batalhador, alugava do próprio bolso o piano e fazia os seus recitais…

Qual o legado do Maestro Gaó para nós?
Infelizmente no Brasil, esse legado que ele deixou é maravilhoso. Eu me recordo uma vez eu fui assistir um concerto da grande pianista Yara Bernetti e eu contei para o o Maestro e ele disse: “Manda um abraço e diz pra ela que nós tocamos o Tico Tico no Fubá brincando, na lá nos EUA na Embaixada do Brasil…” aí eu falei, nossa, a Yara Bernetti, daí eu falei pra ela e ela “Nossa, onde está o Gaó…” fui no camarim, e ela “…quanta saudades dele, manda um grande abraço ao Gaó…”, tinha o Bianchi também, que era oboísta da Orquestra do Estado e o Maestro Gaó falava dele e eu falei que me encontrava com ele, assistia seus concertos, sei quem é, e falei do Maestro, e ele (o Bianchi) ficou tão feliz, e na parte popular, a Wilma Bentivegna que foi muito minha amiga, adorava o Gaó, a Hebe Camargo vinha aqui visita-lo, o Francisco Egídio, “…nossa, o Gaó, quanta saudade, manda um abraço…”, quer dizer, todo mundo gostava dele, muita coisa, né, pena que no Brasil, a memória, é assim mesmo, eu acho que eu estando aqui ainda e você também Rouxinol, eu agradeço muito esse dedicação, ter dedicado uma página pra ele, porque ele merece, e está aí, perpetuado… com as músicas da Mônica, do Maurício de Souza, dos personagens que ele criou… todo estudante de piano o conhece, ou então toca musiquinha da Mônica, todo mundo lembra, da recordação né?

Saudades, mas quase ninguém sabe que são músicas da Mônica… e essa coisa do Tico Tico no Fubá, virou uma música, acho que popular, o chorinho mais famoso do mundo, e foi, graças a primeira gravação com a Orquestra Cowbazz que era uma orquestra do Gaó…

Um depoimento emocionante do premiado pianista Carlos Zapille Albertini. Eu agradeço muito, de coração, este depoimento, mostra com toda emoção, com toda verve de um grande artista, quem foi o Maestro Gaó!

Este depoimento, imenso, pelo seu valor histórico premia também a minha CENTÉSIMA matéria da coluna Mogy Antiga…

Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Autor do livro “Mogy Antiga”, é membro da AMHAL - Academia Mogicruzense de História, Artes e Letras.

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