A Semana



Nosso Maestro Gaó – 1

Odmar Amaral Gurgel nasceu em Salto em 12 de fevereiro de 1909. O nome artístico Gaó, foi inspirado com as iniciais do seu nome ao contrário. Maestro, arranjador, compositor e pianista, trabalhou como diretor artístico na gravadora Columbia. Com a sua Orquestra Colbaz, Gaó foi o primeiro a gravar a música “Tico-tico no Fubá”, composta por Zequinha de Abreu. Ingressou na Rádio Educadora Paulista em 1926, dando início a uma promissora carreira radiofônica.

Para se ter uma ideia mais profunda de como era o Maestro Gaó, fiz uma entrevista com um de seus alunos, o premiado pianista Carlos Zapille. Eis o seu depoimento:

“Eu iniciei meus estudos com o Maestro Gaó no ano de 1978. Eu já havia tido dois professores. Eu já assista as audições do Maestro Gaó que se chamava Gaó e seus Alunos, já havia assistido algumas dessas apresentações no Tiro de Guerra ou no Náutico, no salão do Clube Náutico, porque o teatro estava desativado, então o maestro, ele alugava um piano e levava lá no salão do Tiro de Guerra ou no Náutico, eu não conhecia ele ainda, eu ficava encantado de ver os alunos e ele tocava no final, até que eu decidi procura-lo ele morava ali na rua Olegário Paiva, interessante que meus avós moravam lá também, e conheceu a cunhada dele, a esposa e daí fui procurar.

Só que minha mãe já contava que quando o Gaó veio morar em Mogi, foi uma, nossa, o Gaó tinha um programa na TV Paulista semanal, então ela falou, nossa, o Gaó veio morar, o Maestro Gaó veio morar em Mogi, era uma figura muito conhecida e como ele sempre contava que se dedicou a música popular para ganhar dinheiro, para poder se sustentar, mas a paixão dele era a música erudita, ele fez o Dramática e Musical, Conservatório, com o grande professor Samuel Arcanjo, foi aluno do Mário de Andrade da História da Música, assistia os grandes concertos dos grandes pianistas, Rubinstein, que tocavam no municipal, conheceu Ernesto Nazaré na Casa de Música, tocou pra ele, o Nazaré aprovou a sua execução, era amigo do Zequinha de Abreu, aliás, foi ele que forçou o Zequinha de Abreu assinar um papel pra poder gravar, a fazer a primeira gravação do Tico Tico no Fubá que o Zequinha não queria. Outro dia eu tava vendo o Borenboin com a Filarmônica de Berlim, regendo o Tico Tico, eu falei, Meu Deus, foi o Maestro Gaó que mostrou ao mundo essa música pela primeira vez. E era um pianista de mão cheia, tocava Chopin, Beethoven, Lizt, Bach e daí eu ficava encantado vendo matérias no jornal aqui sobre ele, e fui procura-lo, era uma tarde, acho que de sábado, eu me lembro, entrei na sala, tinha um piano de cauda dele, piano armário, nossa, já fiquei encantado, porque, sabe como é né, a paixão pela música, e ele na época, naquele mês não tinha vaga, aí ele pegou o telefone e falou assim que eu pegar um horário eu já te chamo. E foi muito simpático, eu me lembro que ele falou assim pra esposa, olha, vem cá Dina, esse rapaz parece americano, porque eu era muito magrinho, branco, ele falou, parece um americano, você não é americano?

Eu falei não, sou nascido aqui em Mogi, neto de italianos, daí ele, nossa, você parece americano, eu me lembro disso, que ele insistiu do americano. Mas naquele dia ele ainda não me ouviu, daí, ainda ele falou assim, amanhã se você puder vou tocar no programa Clube dos Artistas, era um programa na TV, que ele tocou, Airton Rodrigues e Lolita Rodrigues, ele tocou nesse programa, então, era uma coisa mágica naquele tempo que não havia vídeo, nada, você vê em preto e branco, a pessoa que você tinha conversado um dia antes, tocando com a orquestra, isso eu assisti, foi muito interessante. E daí, logo depois ele ligou, e marcou minha primeira aula, e aquilo me marcou muito porque ele já me deu Bach, uma suíte francesa de Bach pra eu estudar, uma sonata de Beethoven, um noturno de Chopin, de técnica, livros que não conhecia, tratou do relaxamento do braço pra tocar, a técnica, então aquilo me cativou mesmo, e eu não via a hora de fazer outra aula e cada aula era uma surpresa, uma vez vi o Rubinstein tocando na televisão, nos concertos internacionais, porque como eu falei não havia vídeo, um improviso de Shubert, eu falei com ele, na hora e já pegava a partirtura, ele já tinha ali, então pra mim era uma coisa mágica, me inspirou muito, muito mesmo e também foi como um pai musical, um avô musical”.


Continua….


Fontes

  • Mogi também é música – Roberto Bordin
  • Entrevista com o pianista Carlos Zapille
Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Autor do livro “Mogy Antiga”, é membro da AMHAL - Academia Mogicruzense de História, Artes e Letras.

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