A Semana



A lanchonete Estrela – Parte 1

A história da lanchonete Estrela começou em Portugal, mais precisamente na cidade do Porto por volta de 1911.

Depois de um entrevero com o irmão, Américo Pereira Gomes fugiu de casa com medo da reação do pai, partindo para a região portuária. Embarcou num navio como clandestino, e já no Rio de Janeiro, foi descoberto, pulou no mar e nadou até o cais. Perambulando pelo rio, com 12 anos acabou contando sua trajetória para um português dono de uma padaria que abismado com a história do moleque acabou empregando o rapaz.

Com 17 anos, resolveu ir para Santos em São Paulo. Trabalhando também numa padaria, conheceu Célia Rodrigues Valeijo, espanhola da província de Pontevedra. Casaram-se e tiveram quatro filhos: Tereza, Armando, Nilce e Edith. Para sustentar a família, Américo acabou mudando de emprego, foi trabalhar na The City of Santos Improvements Company, empresa de origem inglesa que inaugurou o serviço de bondes na cidade.

Em 1947, surgiu a oportunidade de voltar ao ramo da padaria, dessa vez como proprietário. O destino? Mogi das Cruzes. Mogi, naquela época ainda sofria as limitações da Segunda Guerra Mundial, com escassez de alimentos e mão de obra qualificada.

A primogênita do casal Américo e Célia, Tereza, vivendo uma grande paixão com o estivador Antonio Rodrigues Garcez, convenceu o namorado a vir com Américo e Célia para Mogi comandar a padaria Estrela, tradicional ponto no centro da cidade. A padaria era comandada pela tradicional família Peres, Ramon e Antonia, o filho do casal, Henrique Peres tinha se tornado um dos mais populares prefeitos da cidade e a família estava disposta a vender, a passar o ponto.

E assim foi, Américo, Célia, Tereza e Antonio passaram a comandar a padaria Estrela.

A padaria ficava num ponto estratégico na rua José Bonifácio, já que todo o comércio era centralizado ali. A rua era uma das poucas vias urbanizadas da cidade, naquela região se concentrava a Sorveteria Daurinho, a farmácia Mauro Ottoni, cartório, a barbearia de Giovani e Pietro.

A família então, arregaçaram as mangas e partiram para o trabalho. Com a escassez de alimentos, principalmente o trigo, por causa da guerra, era preciso encontrar uma forma de produzir pão em quantidade suficiente para atrair a clientela, já que nem sempre encontravam o pão em outras padarias da região. Faltava também água e luz na cidade. Uma caixa d’água foi reservada exclusivamente para a feitura dos pães. Como o trabalho de fornear o pão era a noite, Armando, o genro, colocava o farol da sua bicicleta virada para o forno, e caso faltasse energia não se corria o risco de pão passar do ponto. O fermento era fornecido por Frederico Straube que nem sempre chegava, quando isso acontecia eles usavam cerveja para fazer o pão crescer.

Além do pão, fazia sucesso também, entre os clientes, o biscoito caipira, biscoito cangalhinha, pudim de pão e outras maravilhas.

Com muito trabalho, a padaria foi crescendo graças ao entrosamento da família. Em 1962, Américo, cansado resolveu vender sua parte da padaria ao genro Antonio, que a partir daí se tornou o único dono.
(Continua…)

Fontes

  • Encanto e Sabores – Estrela Lanchonete e Choperia 65 anos – 2013
  • História de Mogi das Cruzes – Isaac Grinberg – 1961
Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Autor do livro “Mogy Antiga”, é membro da AMHAL - Academia Mogicruzense de História, Artes e Letras.

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