A Semana



A rotina de quem trabalha ao volante

Dos 4,4 milhões de trabalhadores do setor de transporte no Brasil, 1,4 milhão são entregadores e motoristas de aplicativos, de acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
E, às vésperas da comemoração do Dia do Motorista, na próxima segunda-feira, dia 25, o jornal A Semana conversou com o Eduardo e o Maicon, que contaram um pouco sobre a rotina de trabalhar “por conta” em aplicativos de transporte. Desafios, causos e histórias engraçadas fazem parte da rotina dos dois, que não escondem o desejo de condições melhores para o dia a dia na estrada.

Do caminhão até o aplicativo

Eduardo Vale trabalha há 12 anos atrás do volante. O seu primeiro contato com a profissão foi como caminhoneiro. “Quando eu tive contato com o caminhão, eu me encontrei. Comecei a trabalhar viajando para alguns Estados e a sensação da liberdade da profissão me motiva mais”, conta. Procurando um trabalho que saísse da rotina comum de um emprego convencional, ele foi também motorista de fretado. “Eu me sentia com muita responsabilidade, pelo fato de estar transportando pessoas”, afirma. Hoje, como motorista de aplicativo, no setor de entregas, ele destaca a flexibilidade das tarefas. “Hoje eu tenho um horário diferenciado, que me permite passar mais tempo com a minha família”, conta.

E mesmo com o dia corrido, há tempo para histórias que o marcam. “São várias que aconteceram ao longo dos anos. Mas uma engraçada foi quando eu fui entregar uma encomenda, eu chamava a cliente e ela falava “Já vai”, mas não aparecia ninguém. Fiquei 20 minutos esperando até que liguei para ela. A cliente não estava em casa e quando eu disse que tinha alguém respondendo, ela riu e disse que era o papagaio dela”, diverte-se.

Mas nem tudo são flores. Eduardo fala que o grande desafio da profissão é a estrutura. “Com o caminhão, faltava um apoio e uma estrutura para conseguir descansar”, lembra. Hoje, trabalhando com entregas, seu maior medo são os assaltos. “As entregas hoje são feitas por carros convencionais. Então, hoje tem esse perigo”.

Na luta

Maicon Cristian é motorista há seis anos, aproximadamente. E ele garante que, hoje, para ser motorista, é preciso ser um pouco psicólogo e até economista. “Psicólogo porque precisamos ter um preparo para lidar com o público. E economista porque fazemos contas a todo o momento, ainda mais no cenário atual com o preço do combustível. Hoje, nosso grande desafio é pagar as contas”, afirma.
Maicon entrega uma associação dos motoristas de aplicativo e acompanha a situação dos trabalhadores desde a chegada das ferramentas na cidade. “Hoje trabalhamos para regulamentar a profissão de motorista de aplicativo em Mogi. Buscamos trabalhar em parceria com a prefeitura, como um espaço de descanso para os trabalhadores, onde eles podem parar o carro, carregar o celular. Além disso, trabalhamos para a criação de uma comissão no município que escute os motoristas e a sociedade civil para trazer melhorias para a categoria”, explica Maicon. Ele diz que, no âmbito federal, já existe uma discussão para alterar a lei que regulamenta o transporte por aplicativo.
Entre histórias de agressão e desrespeito com clientes, Maicon prefere focar nos casos que acabam alegrando o seu dia. “Uma vez fui atender uma chamada na antiga favela do Gica, era uma senhora e duas crianças. Eu estava andando de Tucson e o menino ficou muito feliz de andar pela primeira vez naquele carro”, brinca.

Redação

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