A Semana



O Vila Santista F.C.

O Vila Santista Futebol Clube, fundado em 14 de julho de 1919, teve o auge de sua era futebolística entre o final dos anos 30 e inicio dos anos 60.

Nessa época o Clube que tinha seu campo anexado a sede social na Rua Francisco Franco, disputou a segunda divisão do Campeonato Paulista, dividindo os torcedores da cidade que ainda tinha mais dois clubes na segundona do Paulista nessa época, ou seja o União F.C. e o Tietê que disputou entre 1946 e 1952.

Porém entre as histórias e conquistas que ficaram marcadas nessa era de ouro do esporte bretão mogyano da época, a família Pierucceti com certeza é a que mais colecionou fatos importantes e inusitados.

Tudo começou com o Sr. Eliseo Pieruccetti, que no fim dos anos 30 já era um empresário consolidado na cidade dentro do setor de madeiras e Marcenaria.

O mesmo, um ex-atleta do próprio vila, viera a se tornar nessa época presidente do clube e também técnico do time, um autêntico cartola da época.

Seu Eliseu teve mais três filhos que fizeram história no clube, José Pieruccetti, o Peru, que era um meia atacante muito habilidoso e que fez história dentro e fora do campo na região e que também foi atleta profissional do Juventus da capital; Hugo Pieruccetti que era uma zagueiro bem rigoroso e Carlos Pieruccetti, o Carlinhos que começou jogando de centroavante e depois foi para o Gol.

Acontece que dentro da boleiragem familiar, algumas histórias bem inusitadas da época do Vila se destacaram dignas de um filme de cinema, como costumava contar o próprio Peru.

Como ele sempre dizia “o pau comia” quando se tratava de Vila e União. O Derby local era assunto em toda cidade antes e depois da partida. Quando os vilistas ganhavam, logo após a partida o ponto de encontro da festa entre jogadores e torcedores era a antiga Fonte Luminosa que tinha em frente a Igreja do Rosário (Hoje Hotel Binder).

As comemorações eram tão eufóricas que muitos chegavam até pular dentro da fonte, para darem um banho bem servidos nos vencedores.

O Zagueirão Hugo sempre escalado pelo pai, tinha fama de Xerife o que fazia muitos adversários já teme-lo mesmo antes da partida. Em um jogo em especial contra o União , durante a década de 50, ele chegou a arrancar o distintivo da camisa do atacante adversário com as travas da própria chuteira, em uma disputa de bola (lembrando que nessa época os disitintivos eram costurados com linha nas camisas).

Porém foi um dos fatos mais inusitados, ocorreu no ano de 1956, quando em outro Derby, disputado na Rua Casarejos, o União vencia o Vila Santista por 1×0, em um jogo pra lá de acirrado, quando aos 40 Min. Do primeiro tempo, o atacante Peru disputou uma boal pelo alto como Zagueiro Basilio do União, para infelicidade do Vilista ele acabou levando um choque e abrindo o supercilio.

Sangrando, saiu de campo e foi levado direto para Santa Casa de Misericórdia, onde recebeu os cuidados do Dr. Duilio.

Acontece que, nesse tempo as regras do futebol eram diferentes, afinal não existia substituição e se alguém se machucasse, como fora o caso, o time que perdeu o jogador tinha de seguir com o desfalque numérico até o fim do jogo.

Já na Santa Casa, Peru, acompanhava o jogo pelo rádio, na época transmitido pela Rádio Marabá. Levando pontos na testa, e preocupado com o resultado no jogo que entrava no segundo tempo, ele começou a discutir como médico pedindo para costurar ele logo que tinha de voltar para o jogo, no entanto o Dr. Duilio o advertiu dizendo que tinha tomado cerca de 10 pontos e não iria permitir que saísse do hospital até posterior avaliação.

Pois bem, quando o Doutor virou as costas, para tender outro paciente, o nosso querido Peru, saiu correndo da Santa Casa, com as chuteiras na mão e descalço rumo a Rua Casarejos.

Quando lá chegou já por volta de 30 Min. Do segundo tempo, com a cabeça toda enfaixada, o União ainda ganhava de 1×0, sem sequer pedir para o pai, Sr. Eliseu, que era o técnico ele voltou para o jogo, vestindo as chuteiras às pressas, recompondo os 11 jogadores do Vila.

Cinco minutos depois, ou seja aos 35, ele empatou a partida após um bate-rebate na área adversária, onde a bola sobrou para ele emendar com a canhotinha para o canto direito do goleiro Padovani do União.

O jogo terminou 1×1, e mesmo sendo chamado de louco, Peru saiu nos braços da torcida com a cabeça enfaixada e tudo mais.

Extra os confrontos contra o União, outro fato marcante que aconteceu na história do Vila Santista, foi em um amistoso disputado no Campo da Ruas Francisco Franco, contra o Palmeiras no ano de 1951, quando o alviverde paulista veio a Mogi logo após a conquista da Taça Rio, e perdeu para os mogianos pelo placar de 1×0.

Apenas para fechar a saga dos Pieruccetti, para ironia do destino, na década de 70, os irmãos cederam a rivalidade e chegaram a disputar algumas partidas pelo veterano do rival União. Nessa época Carlos Pieruccetti jogou por quase 7 anos como goleiro do Alvirubro, enquanto que o lendário Peru acabou assumindo várias vezes, mesmo no profissional o comendo como técnico do time.

Já o Sr. Eliseo Pieruccetti ficou na história como um dos cartolas mais importantes da história do futebol de Mogi.

Fonte:

  • Entrevista com Luiz Felício
Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Autor do livro “Mogy Antiga”, é membro da AMHAL - Academia Mogicruzense de História, Artes e Letras.

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