Em março de 2023, contei a história da tragédia do trem dos estudantes em 1972. Em outubro do mesmo ano, recebi uma mensagem da Izabelli Taboada Campanelli, estudante de cinema da FAAP, perguntando se eu poderia ajudar na pesquisa sobre este acidente, para um documentário da faculdade. Com o maior prazer, passei para ela o que tinha. Por esses dias, pedi para me passar todo o processo de pesquisa do documentário para que vocês conheçam o trabalho de quem conta a história da nossa cidade.
“Quando fiquei sabendo do acidente, minha primeira reação foi a surpresa. Sendo mogiana e usuária da linha, não sabia absolutamente nada do ocorrido. Quando eu percebi que o único conteúdo do acidente de 72 existia apenas enquanto referência de outro acidente – o tombamento do ônibus que levava estudantes de Mogi na mesma data, 08 de junho de 2016 – o primeiro instinto foi a dúvida: por que não existiam registros da tragédia dos estudantes? E se existiam, por que tão difíceis de achar?
Desde a fonte inicial com o arquivo histórico da cidade até os poucos relatos de pessoas que ficaram sabendo na época, a informação era dispersa e o acesso mais trabalhoso. O esforço se deu em aproximar todas essas fontes e ligar as pontas soltas. É nesse momento em que o trabalho em equipe se tornou crucial. Era preciso um grupo de pessoas que fosse capaz de dar conta de processar e compreender essas conexões.
Ainda que o acesso às informações objetivas e oficiais fosse escasso, os contextos começaram a se conectar. Tínhamos que contar as causas do fato em si, mas que estavam no plano de fundo de toda a costura da história: a relação entre a construção da estação Estudantes com o acidente, a construção da rodovia Mogi-Dutra e o movimento de estudantes contarem a história de outros estudantes.
Com a tese pronta, era necessário entender como contar a história em apenas 20 minutos.
Esse foi o passo mais difícil do processo. Fomos atrás de captar exatamente aquilo que saltava dos documentos. O filme é fruto dessa realidade espontânea, que está em fase de finalização e com previsão de ser lançado no início de 2025.”
Fonte: Depoimento e texto de Izabelli Campanelli, Bianca Ayuri e Guto Escobar
Foto: Bastidores do documentário – Bruna Nakashima